Do Madhurya Kadambini, de Srila Visvanatha Cakravarti Thakura

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Após oferecer suas reverências ao Senhor Caitanya Mahaprabhu, o inaugurador do movimento de Sankirtana, e a Srila Rupa Gosvami, Seu servo mais confidencial, Visvanatha Cakravarti efetivamente inicia seu discurso em glorificação a Bhakti-devi.
A Suprema Personalidade de Deus e o Brahman O Sruti, ou Veda, oferece irrefutáveis evidências a estabelecerem a Verdade Absoluta. O Taittiriya Upanisad (2.5.2) declara que o Brahman é o suporte e o estai (brahma-puccham pratistha) daquele que é a corporificação de ilimitada e absoluta bem-aventurança (param-anandamaya-purusa), a existência deste sendo dependente do Brahman. A partir desta declaração, o Sruti concede preeminência para o Brahman; em um verso posterior (2.7.2), entretanto, o Taittiriya Upanisad declara que o Senhor Supremo é o reservatório de rasa, ou amor extático (raso vai sah), e que, com o alcance de tal reservatório de prazer extático, que é o Senhor Supremo, mesmo aquele Brahman que corporifica brahmananda é submerso em sublime felicidade (rasam-hy eva-ayam labdhanandi bhavati). Esta declaração afirma claramente que a Suprema Personalidade de Deus é superior a tudo, inclusive ao Brahman. Destarte, aquele que é definido como o reservatório de prazer extático, rasa-svarupa, é descrito no Srimad-Bhagavatam – a melhor das escrituras e a essência de todas elas – como Krsna, o filho de Maharaja Nanda, a corporificação da rasa.
O Srimad-Bhagavatam 10.43.17 declara, mallanam asanir nrnam nara-varah strinam smaro murtiman: “Os lutadores viram o Senhor Krsna como um trovão; os homens de Mathura, como o melhor dos homens; as mulheres, como o Cupido em pessoa”. Esta afirmação deixa claro que o desenvolvimento gradual da felicidade espiritual depende inteiramente de rasa e do nível de sua intimidade. O próprio Senhor Supremo declara no Bhagavad-gita (14.27), brahmano hi pratisthaham: “Eu sou a base do Brahman impessoal”. O Senhor Supremo descreve-Se desta maneira a fim de revelar Sua posição real. As escrituras Védicas, portanto, tanto o Sruti quanto o Smrti, apontam que Krsna, o filho de Maharaja Nanda, é o Senhor Supremo, situado eternamente em bondade pura.
Bhakti-devi É tão Auto-Manifesta e Independente quanto o Senhor Krsna é o primordial Senhor Supremo, que Se manifesta através de Seus nomes, formas, qualidades e passatempos, independente de quaisquer causas ou condições. Krsna revela-Se, por Sua própria vontade, de tal modo que as almas espirituais, ou jivas, possam experienciá-lO com seus sentidos, mente e inteligência.
Assim como é mediante Seu desejo independente que o Senhor Supremo aparece como o Senhor Krsna na dinastia Yadu, ou como o Senhor Ramacandra na dinastia Raghu; é também mediante Seu desejo pessoal que Ele Se revela às jivas, as quais O percebem através de seus sentidos – em outras palavras, é pelo desejo e pela graça do que Senhor Supremo que as jivas podem obtê-lO. Dado não haver diferença entre a energia e o princípio energético – neste caso, entre bhakti-devi e o Senhor –, bhakti-devi não precisa de nenhuma causa ou condição para manifestar-se, senão que aparece em qualquer lugar de sua escolha. No Srimad-Bhagavatam 1.2.6, portanto, a devoção amorosa é descrita como sendo livre de qualquer causa ou motivação (ahaituki), o que advoga em favor da tese de que bhakti não conhece impedimentos oriundos de fonte alguma no que diz respeito à sua liberdade de aparecer para os sentidos das jivas quando quer que queira. O uso do termo apratihata no verso citado, cujo significado é “ininterrupta”, indica que nada é mais prazeroso do que bhakti, outra razão a impossibilitar que seja estorvada.
O Outorgamento da Devoção Pura
No Srimad-Bhagavatam (11.20.8), declara-se, yadrcchaya mat-kathadau jata sraddhas tu yah puman: “De uma maneira ou de outra, alguém, por boa fortuna, desenvolve fé no ouvir sobre Mim”. Neste verso, bhakti é descrita pela palavra yadrcchaya, ou “volição própria”. Novamente, no comentário de Sridhara Svami a este verso, ele escreve que bhakti é livre para agir como queira. O significado dicionarístico para a palavra yadrcchaya é “espontâneo e independente”. Algumas pessoas interpretam o significado de yadrcchaya – palavra esta que também aparece no Srimad-Bhagavatam 11.20.11, mad-bhaktim va yadrcchaya – como “uma espécie de ventura ou boa fortuna”. Tal explicação, entretanto, é defeituosa, e sua falácia é exposta com o questionamento da origem dessa boa fortuna. Por exemplo, essa fortuna é oriunda de atividades piedosas? Se aceitarmos que a ventura ou boa fortuna resultante de atividades piedosas produz bhakti, isso torna bhakti subserviente às atividades piedosas, o que é inaceitável, haja vista que isso infringe o princípio já estabelecido da natureza de bhakti como auto-manifesta e independente. Caso se aceite que essa ventura ou boa fortuna não é produto de atividades piedosas, admite-se que a mesma é caprichosa, imprevisível e, portanto, imperfeita. Como uma coisa imperfeita pode produzir algo perfeito?
Se alguém propuser que a causa de bhakti é a misericórdia do Senhor, então esse proponente terá que buscar uma razão para essa misericórdia. Essa declaração, por conseguinte; suscitando a necessidade de outra explicação que exigirá uma fastidiosa pesquisa, é inconclusiva em si mesma. Alguém talvez qualificasse melhor essa afirmação dizendo que a causa de bhakti é a misericórdia sem causa (nirupadhi) do Senhor. Se essa misericórdia é sem causa, então é necessário que se observe que ela é igualmente outorgada em todo lugar. Uma vez que não se observa que ela se recai sobre todos, isso implicaria a existência do defeito da parcialidade no Senhor. A misericórdia sem causa do Senhor, portanto, não pode ser aceita como a causa de bhakti.
Alguém talvez questione que o Senhor, de qualquer maneira, pune os demônios e protege Seus devotos – isso não é parcialidade? Este tipo de parcialidade que o Senhor demonstrar para com Seus devotos, porém, não implica um defeito no Senhor, senão que é um embelezamento em Seu caráter. Esta obrigação afetuosa do Senhor para com Seus devotos, que será detalhadamente discutida no capítulo oito, chama-se bhakta-vatsalya, e é o rei todo-poderoso a subjugar todas as demais qualidades do Senhor.
Com a proposição da misericórdia sem causa do devoto como a causa da devoção em outra pessoa, alguém talvez objete que a misericórdia do devoto, assim como a misericórdia do Senhor, pode ser parcial. Considerando o caso do madhyama-bhakta, é sabido que ele exibe sim parcialidade ou discriminação em seu ato de distribuir misericórdia. O Srimad-Bhagavatam (11.2.46) afirma:
isvare tad-adhinesu balisesu dvisatsu ca
“O devoto intermediário ou de segunda classe, chamado madhyama-adhikari, oferece seu amor à Suprema Personalidade de Deus, é um amigo sincero de todos os devotos do Senhor, mostra misericórdia para com as pessoas ignorantes que são inocentes, e negligencia aqueles que têm inveja da Suprema Personalidade de Deus”.
Em outras palavras, essa parcialidade é aceita como a característica natural do madhyama-bhakta. Visto que o Senhor é subserviente ao Seu devoto, Ele deixa Sua misericórdia seguir a misericórdia de Seu devoto – e não há irregularidade nisso. Não obstante, a causa dessa misericórdia a manifestar-se no devoto é a próprio bhakti residindo no coração dele, haja vista que a única causa que atrai a misericórdia do Senhor é a bhakti que reside permanentemente no coração do devoto puro. Assim, sem o devoto ter bhakti, não há possibilidade dele mostrar misericórdia para com outros ou antes ter a misericórdia de Krsna para si mesmo. Bhakti causa a misericórdia do devoto, que causa bhakti em outra pessoa. Bhakti causa bhakti. A natureza sem causa, independente e automanifesta de bhakti está, portanto, estabelecida.
O Senhor Supremo é Subserviente aos Seus Devotos Puros
A palavra ati-bhagya (extrema boa fortuna) no verso yah kenapyati-bhagyena jatasraddho'sya sevane, “aquele que se ocupa em serviço devocional com firme fé devido à boa fortuna extrema”, ganha um significado novo e mais profundo. Não mais se entende essa boa fortuna extrema como resultante de atividades piedosas pretéritas, mas como uma boa fortuna extrema decorrente da compaixão dos devotos puros.
Aqui, alguém talvez apresente o contra-argumento de que os devotos estão sempre sob o controle do Senhor, o que impossibilita que a misericórdia do devoto apareça primeiro, de maneira independente, e não como seguinte à compaixão sem causa do Senhor. Krsna pessoalmente soluciona este impasse declarando de modo muito aberto que Ele é voluntariamente subserviente ao Seu devoto puro, e concede preeminência à posição do devoto dando-lhe o poder de outorgar a própria misericórdia do Senhor.
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Do Madhurya Kadambini, de Srila Visvanatha Cakravarti Thakura
Parte 2 de 3
Bhakti é Causada por Niskama-karma?
Quando as jivas estão experimentando os resultados de suas ações passadas a se desenrolarem no palco do mundo material, o Senhor Supremo observa tudo como Paramatma; para com os Seus devotos, todavia, Ele mostra misericórdia especial. No Bhagavad-gita (18.62 e 6.15), Krsna diz, mat-prasadat param santim mat-samstham adhigacchati: “Meus devotos obtêm unicamente pela Minha misericórdia a paz suprema que repousa inteiramente em Mim”. Aqui, a palavra prasada significa a bondade que o Senhor mostra aos Seus devotos confiando a eles Sua potência da misericórdia, a qual é então distribuída às almas caídas, como já mencionado anteriormente.
Através de muitas declarações escriturais – como svecchavatara caritaih, ou sveccha mayasya –, pode-se entender que o Senhor aparece em conseqüência de Seu desejo pessoal. Apesar disso, a visão externa talvez leve a pessoa a dizer que a necessidade de aliviar o fardo da Terra é a causa do advento do Senhor. Da mesma forma, às vezes é dito que os deveres prescritos executados sem motivações pessoais (niskama-karma) agem como a porta para bhakti. Não há mal em tais declarações, isso caso saibamos compreender a natureza relativa delas. Apesar do pequeno mal, o Srimad-Bhagavatam 11.12.9 nega claramente que caridades, austeridades e assim por diante possam causar bhakti:
yam na yogena sankhyena dana-vrata-tapo-'dhvaraih
vyakhya-svadhyaya-sannyasaih prapnuyad yatnavan api
”Mesmo se alguém se ocupa com grande empenho no sistema de yoga mística, na especulação filosófica, na caridade, na observância de votos e penitências, na feitura de sacrifícios ritualísticos, no ensino de mantras Védicos a outros, no estudo pessoal dos Vedas ou entra na ordem de vida renunciada; ainda assim, esse alguém não pode Me alcançar”.
A despeito de tais práticas serem claramente negadas como causadoras de bhakti no verso supracitado; em outro verso seu, o Srimad-Bhagavatam declara:
dana-vrata-tapo-homa japa-svadhyaya-samyamaih
sreyobhir vividhais canyaih krsne bhaktir hi sadhyate
”O serviço devocional ao Senhor Krsna é auferido por caridade, votos estritos, austeridades e sacrifícios de fogo, por japa, estudo dos textos Védicos, observação de princípios reguladores e, com efeito, pela execução de muitas outras práticas auspiciosas“. – 10.47.24
Esta última declaração, contudo, refere-se à bhakti no modo da bondade material – um tipo de bhakti que é, na verdade, parte do sistema de jnana – e não à bhakti completamente espiritual, na categoria de prema, ou amor espontâneo. Outra explicação de alguns estudiosos é que, este verso, ao dizer “caridade”, refere-se a presentear o Senhor Visnu e Seus devotos; que, ao dizer “austeridade”, refere-se a jejuns como o jejum de ekadasi; e que, ao dizer “renúncia”, refere-se à rejeição do desfrute pessoal com vista a proporcionar desfrute ao Senhor. Nesta leitura, tudo se trata de práticas de sadhana-bhakti, e dizer que bhakti é obtida por meio de tais práticas, ou angas, não é incorreto, visto que isso é o mesmo que dizer que bhakti causa bhakti. Esta apresentação filosófica resume os diferentes possíveis contra-argumentos e estabelece mais uma vez o princípio de que bhakti é sem causa.
Karma e Jnana Dependem de Bhakti-Devi
Bhakti é o único meio para se obter completa perfeição. O Srimad-Bhagavatam 10.14.4 descreve como aquele que rejeita bhakti para adotar o caminho doconhecimento especulativo não logra ganho algum.
sreyah-sritim bhaktim udasya te vibho
klisyanti ye kevala-bodha-labdhaye
tesam asau klesala eva sisyate
nanyad yatha sthula-tusavaghatinam
”Meu querido Senhor, o serviço devocional a Vós é o melhor caminho para a auto-realização. Se alguém rejeita esse caminho e se ocupa no cultivo de conhecimento especulativo, esse alguém irá simplesmente se submeter a um processo difícil e laborioso, o qual não lhe dará o resultado desejado. Assim como alguém que debulha um folhelho de trigo vazio não obtém grão, aquele que simplesmente especula não obtém a auto-realização. Seu único ganho são problemas”.
O Srimad-Bhagavatam (1.5.17) assegura que, se alguém abandona suas demais ocupações em favor da prática de bhakti; mesmo caso não obtenha imediatamente a perfeição, não lhe há perigo algum:
tyaktva sva-dharmam caranambujam harer
bhajann apakvo ‘tha patet tato yadi
yatra kva vabhadram abhud amusya kim
ko vartha apto ‘bhajatam sva-dharmatah
“Pode ser que aquele que abandou suas ocupações materiais a fim de ocupar-se no serviço devocional ao Senhor caia às vezes enquanto em um estágio imaturo; não há possibilidade, porém, dele ser mal sucedido. Por outro lado, um não devoto, embora completamente engajado nos deveres ocupacionais, não ganha nada”.
Já o Srimad-Bhagavatam 10.14.5 descreve como os yogis no passado puderam atingir a perfeição em virtude do serviço devocional:
pureha bhuman bahavo ‘pi yoginas
tvad-arpiteha nija-karma-labdhaya
vibudhya bhaktyaiva kathopanitaya
prapedire ‘njo ‘cyuta te gatim param
“Ó Senhor todo-poderoso; no passado, muitos yogis neste mundo atingiram a plataforma do serviço oferecendo todos os seus esforços a Vós e fielmente cumprindo seus deveres prescritos. Através de tal serviço devocional, tornado perfeito pelos processos de ouvir e cantar sobre Vós, eles puderam compreender-Vos, Ó infalível, e puderam facilmente se render a Vós e alcançar Vossa morada suprema”.
Mediante estes três versos, vê-se que o resultado dos caminhos, respectivamente, de jnana, karma e yoga são dependentes de bhakti. Em oposição, para bhakti produzir seu resultado – prema-bhakti, amor espontâneo pelo Supremo –, ela não apenas independe completamente de karma, jnana e assim por diante, como tem sua pureza plenamente manifesta quando fora de contato com tais elementos, o que é confirmado por estas duas declarações do próprio Senhor Supremo:
na jnanam na ca vairagyam prayah sreyo bhaved iha
“Nem o cultivo de conhecimento nem a renúncia são benéficos na prática de bhakti”. – SB 11.20.31
dharman santyajya yah sarvan mam bhajeta sa tu sattamah
”Aquele que rejeita todos os caminhos e simplesmente Me adora é o melhor entre os homens”. – SB 11.11.32
Bhakti-devi, ao invés de ser dependente de outros processos, concede a eles sua potência de modo que eles possam oferecer os resultados desejados. Se é ela própria quem investe tal poder a eles, deve-se entender que bhakti-devi é capaz de pessoalmente oferecer os mesmos resultados, daí o Srimad-Bhagavatam 11.20.32-33 afirmar:
yat karmabhir yat tapasa jnana-vairagyatas ca yat
yogena dana-dharmena sreyobhir itarair api
sarvam mad-bhakti-yogena mad-bhakto labhate ‘njasa
“Tudo o que pode ser obtido através de atividades fruitivas, penitências, conhecimento, desapego, yoga mística, caridade, deveres religiosos e através de todos os outros meios perfectivos de vida é facilmente obtido pelos devotos através do serviço amoroso a Mim”.
De modo a enfatizar por meio da contrastação, pode-se perguntar: Qual é a utilidade de obter tais resultados sem bhakti? O Hari-bhakti-sudhodaya 3.11 responde:
bhagavad-bhakti-hinasya jatih sastram japas tapah
apranasyaiva dehasya mandanam loka-ranjanam
”O nascimento nobre de uma pessoa, seu estudo dos Vedas, seu cantar de mantras, observação de penitências e assim por diante são todos inúteis caso ela seja destituída de devoção, ou bhakti. Não são nada além de enfeites em um cadáver”.
Continua...
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Do Madhurya Kadambini, de Srila Visvanatha Cakravarti Thakura
Parte 3 de 3
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